MAÇÃS PODRES
"O que fazer em situações onde homens que, já não mais reproduzem atitudes machistas e de opressão, encontram-se por tal motivo isolados socialmente?
Mantê-los excluídos, mesmo que a luta pela emancipação feminina seja uma luta social contra a exclusão, não é reproduzir a lógica sexista que combatemos e que manteve por milênios a mulher restrita à exclusividade do espaço privado?
"...o homem constrói suas prisões e com o tempo acaba perdendo as chaves...”
Dentre os delitos que cometi nestes trinta e dois anos de existência a que estive condenado, o principal crime do qual fui cúmplice e também culpado, foi o de ter sido posto no mundo como homem. E exercido este privilégio. Não lembro quando comecei a preparar o cimento da virilidade, assentar sobre a já existente e sólida base, os tijolos do machismo, subir devagar as paredes da opressão, instalar no concreto armado as grades da “insensibilidade” ou quando perdi as chaves, no momento que me trancava dentro do presídio chamado masculinidade. Nem sei exatamente se as deixei cair ou se as joguei para fora do calabouço. Embriagado e turvo com a ilusão vaidosa de ser "o FORTE rei do castelo chamado mundo"!
Depois de mais três décadas de silêncio nesta masmorra que tantos determinam como virilidade, após um leve murmuro de lamento – ainda sem grito ou choro - percebi que me deram o direito de ser homem e, em troca, me roubaram a possibilidade de não ser nada além disso. Eu era prisioneiro de uma identidade socialmente forjada com grossas couraças e garanto que ganhei muito pouco com isso.
Como todo escravo preso à cultura cristã do machismo, sem saber, eu era só carne e culpa. Se as mulheres vivem presas na intimidade úmida de seus quartos vazios com seus sonhos de bonecas, nós homens vivemos “livres” nas calçadas de ruas desertas do outro, com seus sobrenomes de matrimônios pomposos.
No fundo, vivemos todos isolados numa fortaleza, cada qual em seu canto. O que determina o claustrofóbico drama de cada prisão não é o tamanho das grades e correntes, nem tanto é o espaço territorial no qual estamos inseridos, mas a angústia existente no silêncio que ecoa sem resposta dentro do vazio de cada peito sufocado, de cada grito contido, de cada sussurro não ouvido. E não adianta gritar quando todas as vozes na multidão gritam juntas por socorro. Pois é mais fácil querer salvar o mundo do que tentar salvar a si mesmo.
Agora que aos poucos vou me sentido livre das correntes do machismo, me encontro perdido num limbo, sem saber bem para onde vou. Sei apenas que tenho os rumos de uma vida em minhas mãos, mãos que não podem suportar sozinhas o peso de outras correntes. É o fim da ilusão de ser forte. Não posso mais olhar para trás com medo de sentir-me seduzido a novamente entrar no presídio congelado de velhas emoções e lembranças, se é que havia emoções dentro do frio e do gelo destas lembranças. Não sou mulher e nem mais consigo me definir mais como homem. Definição esta que pressupõe um conjunto de atitudes e valores que não me encontro mais disposto a compartilhar. Em que categoria eu posso me classificar agora? Eis a angústia de quem ultrapassar as barreiras dos gêneros na busca em ser por demasiado HUMANO. Rompi com as correntes e as grades e, junto com a provável liberdade, veio o medo da loucura e a angústia da solidão! Eis, em parte, o que é ser homem e se encontrar do outro lado do espelho. Vejo o abismo!"
Como todo escravo preso à cultura cristã do machismo, sem saber, eu era só carne e culpa. Se as mulheres vivem presas na intimidade úmida de seus quartos vazios com seus sonhos de bonecas, nós homens vivemos “livres” nas calçadas de ruas desertas do outro, com seus sobrenomes de matrimônios pomposos.
No fundo, vivemos todos isolados numa fortaleza, cada qual em seu canto. O que determina o claustrofóbico drama de cada prisão não é o tamanho das grades e correntes, nem tanto é o espaço territorial no qual estamos inseridos, mas a angústia existente no silêncio que ecoa sem resposta dentro do vazio de cada peito sufocado, de cada grito contido, de cada sussurro não ouvido. E não adianta gritar quando todas as vozes na multidão gritam juntas por socorro. Pois é mais fácil querer salvar o mundo do que tentar salvar a si mesmo.
Agora que aos poucos vou me sentido livre das correntes do machismo, me encontro perdido num limbo, sem saber bem para onde vou. Sei apenas que tenho os rumos de uma vida em minhas mãos, mãos que não podem suportar sozinhas o peso de outras correntes. É o fim da ilusão de ser forte. Não posso mais olhar para trás com medo de sentir-me seduzido a novamente entrar no presídio congelado de velhas emoções e lembranças, se é que havia emoções dentro do frio e do gelo destas lembranças. Não sou mulher e nem mais consigo me definir mais como homem. Definição esta que pressupõe um conjunto de atitudes e valores que não me encontro mais disposto a compartilhar. Em que categoria eu posso me classificar agora? Eis a angústia de quem ultrapassar as barreiras dos gêneros na busca em ser por demasiado HUMANO. Rompi com as correntes e as grades e, junto com a provável liberdade, veio o medo da loucura e a angústia da solidão! Eis, em parte, o que é ser homem e se encontrar do outro lado do espelho. Vejo o abismo!"
Patrick Monteiro
Historiador, orientador social, negro, poeta e feminista.
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